As igrejas de Milão e seus ‘tesouros’
Segundo o historiador de arte italiano Phillipe D’Averio, Milão só perde para Roma em número de igrejas. Infelizmente, elas não são os principais pontos turisticos de interesse dos milhares de visitantes que chegam a Milão todos os anos.
Uma pena, já que conhecer igrejas, principalmente em um país como a Itália, é entender e contextualizar cada período e a sua história, jáque por séculos a vida religiosa e civil da cidade eram em simbiose permanente.
A importância das igrejas milanesas, vai além do seu famoso (e maravilhoso) Duomo, já que foi aqui, em 313 d.C que o imperador Constantino assinou o Edito de Milão, que legalizou o cristianismo.
De origens paleocristãs, medievais, renascentistas e barrocas, as igrejas de Milão muitas vezes escondem “tesouros” que podem passar despercebidos aos turistas menos atentos.
Aqui uma listas bem pessoal dos mais importantes, alguns bem centrais e com visita gratuíta.
Santa Maria della Passione
A segunda maior igreja depois do Duomo tem seus encantos, como as capelas (escuras) decoradas com quadros de grandes pintores lombardos e o órgão imponente com as portas pintadas pelo pintor Daniele Crespi.
Mas a minha menina dos olhos alí é a belissíma Sala Capitolare, local onde os monjes e padres se reuniam para partecipar de várias assembléias. Colocada na parte de trás da igreja, em um dos lados do claustro, quem não tem um guia (Touring em italiano) nem sabe da sua existência.
De forma retangular, é decorada com quadros e afrescos do grande artista renascentista Bergognone que representam Jesus e os apóstolos e santos e doutores da igreja. Um céu azul e estrelado completa o cenário, na abóboda da sala. Linda!
San Bernardino alle Ossa
A pequena igreja localizada atrás do Duomo de Milão, é de origem medieval mas foi reconstruída em tempos sucessivos. A grande atração fica por conta da capela ossário, exemplo barroco da arte de decoração com ossos.
As quatros paredes do pequeno ambiente são tapeçadas de ossos provenientes de antigos cemitérios da área que formam a decoração com cruzes e lacinhos e podem impressionar os mais sensíveis. Conta a história que Don João V ficou fascinado com o lugar, quando passou por Milão no século 18.
Vale realmente a visita, porque não é toda a cidade que tem uma igreja do gênero.
Duomo
Todo mundo entra, dá a volta admirando as milhares de estátuas externas, sobe até aos telhados, mas poucos descem abaixo da catedral para conhecer a áera arqueológica que abriga os restos da basílica precedente (Santa Tecla – sec. 4) e do batistério de San Giovanni, também do século 4 e onde Santo Ambrosio batizou Santo Agostinho.
Um pedaço da Milão Romana embaixo dos pés dos desavisados turistas que invadem a catedral.
Santa Maria em San Satiro
Mais um dos nossos tesouros escondidos, dessa vez quase que literalmente, já que quem passa apressado descendo Via Torino, não nota do lado esquerdo uma pequena igreja, de fachada anônima, atrás de um portão colocado em um nicho da calçada.
Entre para conhecer uma das obras primas da arquitetura do Renascimento milanês que guarda um “segredo”, desvendado só para quem se aproxima lentamente da abside.
O grande arquiteto Bramante, contemporâneo de Da Vinci, é o autor da ilusão ótica que permitiu criar uma abside falsa em um espaço de menos de 1 metro. O restante da igreja também vale cada minuto passado dentro dela.
Com certeza, uma das mais belas de Milão.
San Maurizio
Chamada a Capela Sistina de Milão, já valeria a visita só por esse título.
A belissíma igreja, completamente afrescada, em grande parte pelo pintor lombardo Bernardino Luini, fazia parte de um complexo muito mais vasto, que abrigada um monastério feminino de freiras beneditinas de clausura que recebiam as filhas das famílias abastadas de Milão a partir da metade do século 16.
Não tenha pressa e aprecie cada centímetro das duas partes da igreja: a dedicada as freiras de clausura na parte de trás (repare no grande órgão) e a parte da frente, dedicada aos fiéis com a contro fachada pintada pelo professor de Caravaggio, o grande e quase desconhecido Simone Peterzano.
San Maurizio fica em uma área arqueológica importantíssima da cidade, no eixo do antigo Decumano Romano e o seu interior pode ser considerado um museu da arte pictórica lombarda do século 16.
Basilica San Lorenzo
A basílica de origem milenar, já que sua origem é de época romana, conserva na Capela de Santo Aquilino, construída come mausoléu imperial, mosaicos e decorações paleocristãs belíssimas do século 6, que representam Cristo entre os apóstolos.
Reformada durante os séculos, é possível reconhecer parte dos muros perimetrais originais e descendo atrás do altar da capela, se tem acesso a um pequeno subterrâneo com as fundações romanas.
Basilica di Sant’ Ambrogio
Uma das quatro basílicas construídas pelo primeiro arcebispo milanês, Ambrósio, tem suas origens no século 4 d.C e é um dos símbolos do cristianismona cidade.
Seu interior é rico de surpresas, como o sárcofago de Stilicone, afrescos e pinturas nas capelas e a parte do altar, que abriga talvez a maior obra de ate da basílica: uma grande urna de ouro, de idade carolíngia (sec. 9) e uma das maiores expressões da arte ourivesaria lombarda.
A abóboda da abside é decorada com um grande mosaico dourado com partes do século 5 e 8 e que representa o Redentor no trono.
Uma capela ao lado direito da basílica (visita a pagamento) abriga outro grande mosaico da cidade: San Vittore in Cielo d’Oro, colocado na parte da cúpola e rodeado de outros mosaicos que respresentam Santo Ambrosio, São Gervasio e São Protasio.
Basilica di Sant’Eustorgio
Outra grande obra do Renascimento em Milão fica no interior da antiga basílica, que hospeda a elegante Capela Portinari, construída pelo banqueiro dos Medici (Pigello Portinari) na cidade e afrescada pelo grande pintor Vicenzo Foppa em uma explosão de cores.
Inteiramente restaurada nos último anos, a capela também abriga o lindo sarcófago gótico, em mármore, com os restos de San Pietro Martire, esculpido por giovanni da Balduccio entre 1335-1339
A basílica abriga também uma arca onde diz a lenda que repousam alguns ossos dos Reis Magos e a cripta embaixo do altar mostra restos arqueológicos de uma necrópole paleocristã.
Fotos: Milão nas mãos, WikiCommons (Carlo dall’Orto)
Horários e informações:
Santa Maria della Passione Via Conservatorio, 12 De seg a sab: das 8 às 12 e das 15.30 às 18 Dom: das 9.30 às 12 e das 15.30 às 18.30 Entrada gratuíta San Bernardino alle Ossa Piazza Santo Stefano De seg a sex: das 7.30 às 12 e das 13.30 às 18 Sab: das 9.30 às 12.30 Dom: das 9.30 às 12.30 e das 16.30 às 19.30 Entrada gratuíta Duomo Piazza Duomo Subterrâneos – de ter a dom: das 10 ás 18 Fechado: 1 janeiro – 1 maio – 15 agosto – 25 dezembro Ingresso: 7 euros (bilhete para catedral, subterrâneos e museu do Duomo) Santa Maria em San Satiro Via Torino, 17 De ter a sab: das 9.30 às 17.30 Dom e feriados: das 14 às 17.30 Entrada Gratuita San Maurizio Corso Magenta, 15 De ter a sab: das 9.30 às 17.30 Fechada: 24, 25, 26 e 31 dezembro – 6 janeiro – 1 maio Entrada Gratuita Basilica de San Lorenzo Corso Porta Ticinese, 35 De seg a sab: das 7.30 às 18.30 Dom: das 9 às 19 Ingresso Capela Sant’Aquillino: 2 euros Basilica Sant’Ambrogio Piazza Sant’Ambrogio, 15 De seg a sab: das 10 às 12 e das 14.30 às 18 Dom: das 15 às 17 Ingresso tesouro: 3 euros Basilica de Sant’Eustorgio Piazza Sant’Eustorgio, 3 Basilica: todos os dias das 8 às 12 e das 15 ás 18.30 Capela Portinari: todos os dias das 10 às 18 Ingresso capela: 6 euros (inteiro) – 3 euros (reduzido) – 1 euro (até 14 anos)
Gostaria de saber como fazer para sair de Milão para Verona
De carro ou de trem
Olá,
Estive recentemente em Milao (semana Carnaval 2016) e foi uma excelente viagem; realmente, Milao é uma cidade encantadora …
Visitamos várias Igrejas, preciosas, porém, a de San Maurizio me chamou atenção: em uma das paredes (de frente para quem entra) há uma “pintura” que se assemelha a bandeira do Brasil, alguém mais teve essa impressão?
Pois entao. Seu artigo veio de encontro ao meu pensamento. Igrejas sao culturalmente enriquecedoras,; independente de religioes é uma aula. Anotando tudo para visitas futuras. Parabéns pelo texto.
Mage, cada vez dá mais vontade de ir pra Milão. “Culpa” sua, viu??? :)
Sério: o Milão nas Mãos me fez descobrir a cidade como destino e fez Milão subir feito um foguete na minha lista de sonhos de viafem. De 2015 não passa. Já já eu tô aí.
Bjo
Já te disse, querida Cyntia: eu estou te esperando…
Milão não é para iniciantes… e vc é uma veterana…
Bjs
Sensacional este post Mage! Adoro visitar igrejas não pela religião em si, mas porque são o retrato da História dos países europeus: Quero conhecer estas todas quando foi aí! Parabéns beijos!