Os turistas e italianos que embarcam e desembarcam com pressa na Estação Central de Milão talvez não reparem na beleza da construção, que para mim é a estação de trem mais bonita da Itália.
Inaugurada em 1931, foi projetada pelo arquiteto Ulisse Stacchini e é um dos monumentos da arquitetura fascista de Milão, com elementos de decoração art decò como os belíssimos lustres e luminárias.
Mas a importante estação ferroviária do Norte da Itália, foi palco de um dos episódios mais triste da história recente.
A PLATAFORMA 21
O ‘subterrâneo’ da plataforma 21 era usada desde o início da inauguração da estação pelos correios para carregar as correspondências e encomendas nos trens sem atrapalhar os passageiros que embarcavam no andar de cima.
Os vagões eram carregados com a mercadoria e depois de cheio, um sistema de elevador subia o vagão para o nível das plataformas de embarque e desembarque da estação.
A partir de dezembro de 1943, esse mecanismo começou a ser utilizado para carregar, sem que ninguém visse, os hebreus e opositores do governo fascista e deporta-los para os campos de trabalho forçado e extermínio da Itália (Fossoli e Bolzano) e na Polônia, Austria e Alemanha (Auschwitz, Bergen-Belsen, Mauthausen).
Os vagões que compunham os trens eram feitos de madeira, sem janela e iluminação e eram os mesmo utilizados para o transporte de animais. As viagens duravam cerca de 1 semana com uma única parada para comer, geralmente em Bolzano.
A plataforma escondida foi usada até janeiro de 1945 e dali partiram cerca de 23 trens levando milhares de deportados para a morte.
O comboio no. 6, por exemplo, levou no dia 30 de janeiro de 1944 cerca de 605 hebreu para o campo de Auschwitz, dos quais só 22 sobreviveram.
O MEMORIAL
A ideia do projeto para a realização de um memorial da shoah em Milão nasce em 2002, envolvendo associações, centro de documentação e as comunidades hebraicas de Milão e italiana.
Mas é só em 2010 que começa a restruturação do espaço embaixo da plataforma 21 e dois anos depois, no dia 27 de janeiro 2013 o memorial da Shoah de Milão é inaugurado.
O memorial tem 7.000 mt2 e logo na entrada um enorme muro com a palavra INDIFERENÇA recebe os visitantes. Segundo uma das sobreviventes milanesas, foi o sentimento que contribuiu para que a tragédia continuasse acontecendo.
Na plataforma do memorial, um trem de animais com os vagões de madeira e sem janelas ficam expostos e a guia convida os visitantes a entrar e imaginar uma viagem de cerca de 7 dias, em pé, sem luz, comida e aquecimento em direção a morte.
Também é possível ver e entender o mecanismo de elevador que era usado para levantar os vagões e coloca-los no nível das plataformas da Estação Central.
Ao longo da plataforma do memorial, placas com as datas e a destinação dos comboios que deixaram Milão ao longo dos anos de funcionamento da estratégia e em um grande muro, onde são projetados os nomes de todas as pessoas deportadas. Os nomes de cores diferentes são os sobreviventes. Infelizmente foram pouquíssimos.
O espaço ainda conta com pequenas salas onde são projetados vídeos com os depoimentos dos sobreviventes sobre as experiências pessoais.
Difícil ficar indiferente em uma visita como essa, eu me emocionei e a parte mais difícil para mim foi entrar nos vagões e estar escrevendo esse post, ainda que eu esteja só descrevendo o memorial sem entrar nas minhas questões emocionais.
Deixo aqui, o link de algumas páginas Wikipedia (em italiano) sobre alguns sobreviventes italianos Arianna Szörényi , Agata (Goti) Herskovits , Luigi Ferri, Liliana Segre , que foram as poucas crianças que voltaram vivas (só Agata tinha 20 anos na época da deportação).
Segundo a Fundação Memorial da Shoah, o objetivo do projeto é: realizar, no mesmo lugar onde teve início o horror da Shoah em Milão, um espaço que não só nos ‘lembre de recordar’, homenageando às vítimas do extermínio, mas que também represente um contexto vivo e dialético onde reelaborar ativamente a tragédia. Um lugar de comemoração, mas também um espaço para construir o futuro e favorecer a convivência civil.
É possível visitar o Memorial da Shoah em Milão de terças às quintas, sem reserva e aos primeiros domingo de cada mês. Para informações atualizadas sobre as visitas, consulte o link da Fundação Memorial da Shoah .
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O seu blog é muito instrutivo, com certeza irei conhecer este Memorial. Suas dicas são valiosas, obrigada por compartilha-lhas!
Obrigada Debora! O memorial é muito legal. Boa visita
Olá!
Um artigo muito interessante! Gostei muito de saber que existe este memorial. Também eu adoro a estação central de Milão e da próxima vez que voltar à cidade e à estação vou querer visitar este museu.
Obrigada pela partilha!
Olhei no site, mas como não sei italiano, não sei se interpretei muito bem, os dias são terça e quintas e o horário de 10h às 14h30?
Isso Jamille, de terça a quinta e depois nos primeiros domingos de cada mês.
Quero conhecer esse lugar!
É de arrepiar, Lu!!
Qdo vc vier aqui, te levo lá…