Milão e os bombardeios da Segunda Guerra Mundial

Em agosto desse ano, Milão relembra 70 anos de um triste acontecimento na cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, Milão foi intensamente bombardeada pelos aviões ingleses das forças aliadas. A Itália entrou em guerra em junho de 1940 e durante os anos sucessivos foram mais de 60 ataques de intensidades diferentes. O mais grave, por danos e números de vítimas foram os de agosto de 1943.

Praça San Fedele Milão

Se no ínicio do conflito os principais alvos eram fábricas e linhas ferroviárias, as forças aliadas não demoraram a bombardear os principais patrimônios históricos-culturais da cidade, com  objetivo de ferir o orgulho milanês através da destruição desses. Ainda que as bombas tenham causado danos imensos aos monumentos da cidade, Milão, desde 1939 já possuia um plano para a defesa do próprio patrimômio monumental.  O então superintendente do ministério competente, conseguiu obter 370.000 sacos e 19.000 metros cúbicos de areia para utilizar como proteção dos maiores monumentos e igrejas lombardas. Junto a tal projeto, foi predisposto um plano de relevação fotográfica e gráfica das obras mais importantes com a intenção de reunir todos os dados que eventualmente pudessem servir para a restauração dos monumentos atingidos.

galeria milao

Duomo, as igrejas de Santo Ambrogio, Santo Eustorgio, São Marco, Santa Maria delle Grazie, Santa Maria della Passione, San Maurizio, San Nazaro, Teatro Scala, Castelo Sforzesco, Santa Ceia de Da Vinci, Villa Reale, Biblioteca Ambrosiana e Pinacoteca de Brera  são algumas das construções eclesiásticas e civis colocadas sob algum tipo de proteção.

Em janeiro de 1943, 24 edifícios considerados monumentais já tinham sido colocados “a salvo”. Em alguns casos, a intervenção constituiu só na desmontagem ou transferimento de obras de arte, como no caso da Pinacoteca de Brera, cujo acervo foi transferido para o espetacular cofre subterrâneo do banco Cariplo em Via Verdi, ao lado do Teatro Scala.  Os vitrais do Duomo junto com as 135 estátuas das agulhas foram retirados e armazenados nos subterrâneos da catedral, que talvez por bom senso dos ingleses, não foi diretamente bombardeada.

cofre milao banco

Os monumentos milaneses foram intensamente bombardeados entre as noites de 12 e 13 de agosto 1943, quando 504 aviões (sim, 504) lançaram sob a cidade 2.000 toneladas de bombas e também 2 dias depois, entre os dias 15 e 16, quando 600 toneladas de explosivos destruíram o Teatro Scala, a basílica de Santo Ambrogio e a igreja de Santa Maria delle Grazie, onde se salvou, por milagre, a parede com a famosa obra de Da Vinci.

A parede com a Santa Ceia protegida pelos sacos de areia e andaimes

Na manhã do dia 17 de agosto Milãó era um acúmulo de escombros. Até o final da guerra, em 1945, a cidade sofreu outros ataques de menor intensidade. Nos 10 anos seguintes, junto com a emergência civil (a população privada das próprias casas, escolas e hospitais) Milão fez o que sempre soube fazer de melhor: arregaçou as mangas e se reconstruiu.

Fotos: internet e arquivo Intesa SanPaolo

9 respostas
  1. marcia says:

    Mage, que post bacana! Sempre me pergunto como tantos monumentos, igrejas e edifícios históricos sobreviveram à guerra e nunca tinha visto um post como este nos blogs. Parabéns!

    Responder
  2. JOse Cancello says:

    Estou procurando na internet dados sobre o bombardeio do Duomo de Milão em 1943. Quando fiz um estágio nessa cidade, visitei e conheci o Duamo de baixo ao alto. Até agora não encontrei nenhuma referência ao bombardeio, a baixa altitude (para não errar), de um bombardeiro Mitchel B-25, que destruiu as portas lateriais de madeira, deixou os estragos na porta de bronze dianteira e arrasou o lado esquerdo dessa catedral. Sei disso porque vi pessoalmente os estragos quando subi no teto. Cheguei há apenas alguns centimetros da Madonnina dourada, o ponto maos alto. É estranho como crimes de guerra dos aliados estão ficando cada vez mais dificil de serem encontrados na Web. Há um caso semelhante de bombardeio americano ao Vaticano, também durante a Segunda Guerra, feito por um comandante protestante. O que encontrei foram ligeiras menções muito subjetivos. Será que você poderia fornecer-me maiores dados desse ataque? Saudações.

    Responder
    • Mage Santos says:

      Ola Jose!!
      Tente fazer uma pesquisa em italiano, talvez voce encontre alguma coisa, mas nao existe material so sobre o Duomo. A catedral foi danificada, mas nao sofreu um bombardeio direto como outros grandes monumentos da cidade.
      As estatuas das agulhas e os vitrais ja tinham sido retirados e recentemente, durante uma visita guiada que fiz aos tetos com um guia da Veneranda Fabbrica del Duomo, fiquei sabendo que existia um pacto entre o cardeal
      Schuster, arcebispo de Milao e os ingleses, para nao bombardear diretamente a catedral.
      Eu tenho um livro que è sobre Milao bombardeada e existem outros varios, mas sempre em italiano. No Youtube vc tb acha um cinejornal da epoca (Milano dopo gli ultimi terroristici bombardamenti).
      Um abraço
      Mage

      Responder
  3. Dani Bispo says:

    Uau, fiquei até arrepiada. A guerra (militar) é uma coisa muito distante para nós brasileiros, principalmente da minha faixa etária.
    Tenho muito dó do povo que infelizmente sem escolha precisou se ver dentro de uma delas.

    Bjs
    Dani

    Responder
    • Mage Santos says:

      Pois è, Dani, a história de Milão é bem trágica.
      Eu aqui, me limitei aos danos ao patrimônio histórico e cultural, mas as mortes e a emergência civil, também
      não foram banais.
      Nós brasileiros, mesmo a geração de nossos país, não conhecemos essa vida… essa história nas costas
      Bjs
      Mage

      Responder

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *