Os bairros de Milão: a história de Brera
Brera é um dos bairros mais conhecidos da Milão atual. Mas a onda de turistas, estudantes de arte e locais que todos os dias atravessam as suas charmosas ruas e frequentam seus restaurantes, lojas e museus, nem sempre conhecem a origem e a história recente do lugar.
O nome Brera vem de braida, que quer dizer terreno não cultivado, fora da cidade. Ou seja, é difícil imaginar Brera fora dos muros medievais com um jeitão rústico, mas era assim.
Com uma isolada igreja no século 13, transformada no século 16 em convento jesuíta, a vida em Brera corria tranquila. No século 18 os anti-clericais austríacos chegam, mandam embora todos os frades e transformam a bela construção em Academia de Belas Artes, que logo vira reduto de artistas e letrados (com a abertura também da biblioteca).
Inevitável com a gravitação de artistas por ali, que a pegada boêmia começasse a se espalhar. E a equação é simples: boemia + homens = bordéis.
Isso mesmo, as graciosas ruas de Brera, especialmente Via Fiori Chiari, hospedaram até os não tão distantes anos 50, os mais respeitados bordéis milaneses. Sim porque muitos não sabem, mas a prostituição era legalizada na Itália até 1958, quando a Lei Merlin (que leva o nome da senadora que a propôs) fechou as casas de tolerância com a intenção de cessar a exploração feminina organizada.
Algumas das regras impostas ao exercício da mais antigas das profissões, já tinham sido fixadas durante o regime de Napoleão e obrigava as senhoritas a consultas ginecológicas periódicas. Mais tarde, outras foram acrescentadas, como a rotação entre várias cidades (viagem paga pelas prostitutas) para evitar a criação de laços afetivos com os clientes mais assíduos.
Nas casas mais luxuosas, as meninas tinham até book e o desenrolar do trabalho era ainda permeado de regras férreas: o cliente escolhia a prostituta, o tipo de “serviço”, pagava a marqueta (uma ficha) e subia para um dos quartos. Ao terminar, dava a ficha para a moça, que no final do dia, passava no caixa e recolhia a sua porcentagem em base as fichas apresentadas.
Todos os quartos tinham bidê e as mocinhas eram obrigadas a fazer um banho de assento ao término da prestação.
Além do vai e vem dos homens que frequentavam os bordéis, o bairro era também invadido pela presença masculinas de centenas de garis, já que um dos depósitos-dormitórios dos varredores da cidade, ficava na (hoje, lindinha) Via Madonnina. Certo, com seus salários não podiam se dar ao luxo de horas de prazer com as mocinhas e talvez se acontentassem só de espiar uma ou outra de seios de fora nas sacadas dos prédios.
Esse mix de rotinas e vidas, fazia do bairro um dos mais populares (no sentido econômico) de Milão e foi assim até os anos 60. “Esquecido” por 3 décadas, nos anos 90 o boom imobiliário e a expeculação o fizeram um dos metros quadrados mais caros da cidade.
A próxima vez que você entrar em uma loja em Brera, lembre-se que se os muros falassem, poderiam te contar históricas picantes.
Leia mais sobre Brera no blog:
Restaurante Bom e Barato
Embora seja italiano e more em Milão não sabia muito sobre a história deste bairro. O seu artigo e’ cheio de informações historicas e muito interessante. A próxima vez que visitar Brera, não poderá me esquecer do que você escreveu. :) P.S. Peço desculpa pelos erros, mas o meu português ainda e’ bem fraco. :)
Olá Rosario,
Seu português é ótimo. Fico contente em saber que mesmo sendo italiano, vc aprende com o blog.
Abraços
Gostei de saber a história do “meu bairro” em Milão :-)
Ah, quando estava escrevendo, lembrei de vc…
beijos querida