Passeio com o trem Bernina Express
Milão, desde época romana, sempre teve uma posição privilegiada na geografia italiana e européia. Não foi à toa, que o imperador romano Dioclessiano, em 286 d.C, resolve deslocar a capital do império para cá, porque era mais perto da fronteira com o norte, por onde os bárbaros começavam a avançar.
Hoje os tempos são outros, não tememos mais as invasões, mas estamos sempre no mesmo lugar, no meio de tudo por aqui (o nome Milão vem do latim Mediolanum: terra do meio), pertinho de lagos, planaltos e montanhas.
As montanhas mais perto de Milão são as das cidades na área de Lecco e Bérgamo e foi aproveitando essa proximidade e o finalzinho das férias, que resolvemos fazer com as meninas o famoso passeio com o trem Bernina Express. Para quem não conhece, o Bernina é um trem da ferróvia suiça, que liga a cidade de Tirano (Itália) a St. Moritz (Suiça).
Patrimônio Unesco desde 2008, a linha foi pensada no final do século 19 como meio de locomoção entre os vales (Valtellina e Val Poschiavo) e os alpes e para promover o turismo da região da Engadia e Grigione. Mais de 3.000 trabalhadores, na maioria italianos, trabalharam na construção da ferrovia, que foi inaugurada em 1911 e por muito tempo funcionou só no verão.
A viagem
O trajeto de 61 km parte de Tirano, que fica a 429 mt, atinge o Passo do Bernina, ponto mais alto do percurso a 2.253mt até chegar em St. Moritz a 1.775mt, depois de 2 horas de uma viagem com paisagens encantadoras.
Logo depois de Tirano, a atração é o viaduto espiral de Brusio, construído dessa forma para superar o disnível e alongar o percurso em um espaço estreito. Mais adiante se avista o bonito lago de Poschiavo e os passageiros do trem começam uma inevitável sucessão de levanta e senta para apreciar a paisagem e tirar fotos. Dalí para frente é isso: levantar e sentar, virar para a direita e esquerda, porque a beleza vem de todos os lados.
O ponto alto da viagem para mim e não é um trocadilho, foi mesmo na altura do Passo Bernina, onde de um lado fica a charmosa estação/parada Ospizio Bernina, que é também a fronteira entre duas línguas: no vale ao Sul se fala italiano, ao Norte, na Engadina, alemão. Do outro da estação fica o maravilhoso Lago Bianco, assim chamado pela cor clara das águas.
Nós tivemos a sorte de pegar um dia de sol (no dia anterior tinha chovido o dia todo) e com certeza isso muda bastante as cores, reflexos e nuances da paisagem.
A partir do Ospizio Bernina, o trem começa a descer em direção a St. Moritz. É última parte da viagem, mas sabendo que ainda tem o bis da volta.
St. Moritz
Você saí da estação de trem e sabe que está na Suiça pela organização, limpeza e a paisagem, mas assim que chegamos ao “centro” comecei a me perguntar porque St. Moritz é tão badalada.
A rua principal é uma sucessão de lojas de grifes, hotéis luxuosos e Ferraris, Porshes e Rolls Royces atravessam as ruas para cá e para lá. Eu não conheço Montecarlo, mas tive a impressão que fossem parecidas, pelo menos no meu imaginário (talvez preconceituoso): uma cidade de idosos ricos, sem muita personalidade.
Nós chegamos às 12.15 e tínhamos 3 horas (é o suficiente) para darmos uma volta e almoçarmos. O museu de arte da cidade estava fechado porque estavam montando uma mostra que abriria dalí alguns dias e decidimos então procurar um restaurante.
Tínhamos já dado uma olhada nos preços dos resturantes no TripAdvisor e eram realmente caros (e tem gente que reclama de Milão). Acabamos achando um “econômico”, que não vale a pena citar, onde uma pizza margherita custou 15 euros, quase o dobro daqui.
O ponto alto da parada, para mim e para as meninas, foi a entrada em uma loja de chocolates, a Laderach para um abastecimento rápido antes de voltarmos. Não preciso dizer que eram muito gostosos.
Com certeza St. Moritz deve ser um ótimo destino no inverno, para fanáticos abastados do esqui , já que fiquei sabendo que as pistas são ótimas. No verão, para quem passa, não me pareceu oferecer grandes diversões.
Mas quem chega alí com o Bernina é atraído pela viagem em si e não pelo destino final. Fiz ida e volta tentando imaginar como deve ser de inverno, com a paisagem completamente coberta pela neve, imaculadamente branca. Já estou pensando que vou ter que conhecer a outra versão da viagem.
Para os mais desavisados: como disse antes, a cidade fica a 1.775mt de altitude, a temperatura mesmo no verão, é fresquinha. Nós pegamos um dia de sol na metade de agosto, mas mesmo assim a temperatura lá estava por volta de 15 graus.
Como organizar
A viagem em si pode ser feita em um dia, um bate e volta, pois o percurso dura 2 horas por trecho e você pode decidir quanto tempo ficar em St. Moritz.
Para o turista que tem um pouco mais de tempo por aqui, o ideal é passar a noite anterior em Tirano, já que a cidade fica a 3 horas de Milão de carro e a 2 horas e meia com os trens regionais e tentar chegar lá no mesmo dia da viagem, dificultaria o embarque nos 2 trens panorâmicos da manhã.
Nós queríamos passar alguns dias nas montanhas, então optamos por nos hospedar em Livigno (o que nos fez enfrentar 1 hora de viagem na ida e na volta entre Livigno-Tirano), mas a Tirano me pareceu muito organizada, limpa e cheia de bares, restaurantes e hotéis.
Nós reservamos nossos lugares no trem com vagões de janelas panorâmicas (existem só 3 ao dia que fazem Tirano-St. Moritz e outros 3 que fazem a volta, mas atualmente os horários não estação indicados no site ). Nos outros horários os trens tem janelas grandes, mas normais. A diferença entre os dois é o preço, já que o vagão de janelas panorâmicas tem uma taxa de 12 francos suiços por trecho para a reserva de lugares marcados, que é obrigatória. Ida e volta, para esse tipo de trem, um adulto paga cerca de 90 francos suíços (crianças de 6 a 16 anos pagam a metade). No verão existe uma versão de vagão panorâmico aberto (foto) nos trens com janelas normais.
Os trens também tem 1 e 2 classe, mas pelo que consegui ver, a diferença está na quantidade e na largura das poltronas. Nós viajamos de 2 classe e garanto que as poltronas são bem espaçosas e se viaja muito bem.
Resumindo: fomos até Tirano, partindo de Livigno pela manhã com os bilhetes já reservados, pegamos o trem das 10.03, chegamos em St. Moritz às 12.17 e saímos de lá no último trem panorâmico das 15.22, chegando em Tirano às 17.27.
Clique no site da Ferrovia Retica SA para reservar seu bilhete
Digamos que na volta, quem não quiser dormir em Tirano de novo, pode enfrentar a viagem de 3 horas de volta até Milão. Nos comentários desse post, a leitora Ana Carla conta a sua experiência usando o trem de Milão para chegar a Tirano.
Uma outra opção são empresas, como a Zanni Viaggi, que de Milão e Bérgamo fazem a viagem (1 vez por mês) de ônibus até Tirano, com visita guiada da cidade em italiano e dalí até o destino final com o Bernina Express em trem com vagões normais. A permanência em St. Moritz é de 1 hora e meia e a viagem de volta é feita de ônibus.
Sei que existe também a possibilidade de fazer a viagem saindo de ônibus de Lugano, na Suiça (da estação de trem). Deixo abaixo o comentário do Felipe, que me parece mais atualizado (dez 2019):
” O que eu sei é que tem um ônibus da Autopostali/CarPostal (o famoso ônibus amarelo da Suíça, pertencente à companhia de correios e que opera transporte público por lá), que sai às 15h13 do Autosilo Balestra (rodoviária) e chega por volta das 7h em St Moritz. O Autosilo não fica perto da estação de trem, tem que pegar o funicular de Lugano e caminhar umas três quadras, ou pegar um ônibus local de Lugano até o Autosilo.
Portanto, se for de Lugano de ônibus, a viagem de trem será feita no sentido inverso, isto é, de St Moritz descendo até Tirano, que é o sentido mais vazio, pois muita gente faz pacotes para pegar só a ida de Tirano a St Moritz, voltando de ônibus para a Itália.”
Essa é uma viagem que você tem que organizar, principalmente em algumas épocas do ano, mas para quem fica aqui por mais tempo, vale muito a pena.