Para cada letra do alfabeto (brasileiro) eu poderia ter achado mais de uma opção para definir essa cidade (ok, o X e Z provavelmente não), mas aqui está praticamente a primeira coisa que me veio a cabeça quando pensei em uma letra e uma coisa que a definisse em Milão.
A como Aperitivo
É o ritual milanês por excelência. Se difundiu em outras cidades italianas (no sentido de ser feito com a modalidade de buffet abundante), mas continua tendo suas raízes aqui.
Chic, descolado, caro, barato, com buffet, com petiscos, com os amigos ou colegas de trabalho: se você vive em Milão pelo menos 1 ou 2 vezes por semana vai “fazer um aperitivo” (leia o post).
Eles começam a partir das 18.30 e podem ser rápidos, só para antecipar o jantar tomando um Negroni, Spritz, Campari ou uma taça de Franciacorta; ou pode ser mais demorado e substituir o jantar
Na sua passagem por Milão, escolha um bar e relaxe depois de um dia de turismo, como os milaneses.
B como Brera
O famoso bairro descolado, que fica atrás do Teatro alla Scala era, até os anos 90, um bairro popular e boêmio, graças a presença (desde o sec. 18) da Academia de Belas Artes e seus alunos artistas e, posteriormente da Pinacoteca de Brera, o museu mais famoso da cidade.
Chamado a Montmartre milanesa, Brera foi também o bairro dos bordéis até 1957, ano em que a prostituição passou a ser ilegal na cidade.
Nos anos 90 a redescoberta do bairro com a recuperação de vários edifícios e o boom imobiliário. Hoje, Brera com seus bares, restaurantes como Pisacco, suas galerias e lojas, tem um dos metros quadrados mais caros da cidade.
C como Castelo
O castelo de Milão fica no centro e tem suas origens em época medieval. Durante o Renascimento foi ampliado pela família Sforza (daí o nome Castelo Sforzesco) e virou residência ducal.
Por alí passou Da Vinci, que trabalhava para o duque Ludovico Sforza também como cenógrafo das festas de corte.
Hoje, as salas do castelo hospedam uma série de grandes museus municipais, como o Museu de Arte Antiga, Museu dos Instrumentos Musicais, Pinacoteca do Castelo e conserva uma das minhas obras de arte preferida e uma das pérolas dessa cidade: a Pietà Rondanini de Michelangelo.
D como Design
Além da moda, Milão é famosa também pela excelência do seu design e escolas como o Politecnico e IED atraem todos os anos italianos e estrangeiros que vem estudar arquitetura e design industrial na cidade.
Nas últimas décadas (e ainda hoje) foi em Milão que nasceram as idéias mais inovativas sobre o setor. Mas a cidade é famosa também porque aqui o design é um sistema baseado em um equilibrio produtivo entre business, cultura, profissionais, críticos, comunicadores, artesãos, empresários e centros de pesquisa, como o Politecnico.
A cidade lançou grandes nomes como Fornasetti, Achille Castiglione, Gae Aulenti e Giò Ponti, só para citar os mais famosos por aqui.
E como Elegância
Scott Schuman do blog de street style The Sartorialist já declarou que Milão é a cidade mais elegante para ele. Sim, ele se referia, provavelmente, aos milaneses e milanesas e seus estilos ao se vestir e também as grifes famosas da cidade, nascidas aqui ou não.
Prada, Armani, Versace, Dolce Gabbana, Gianfranco Ferrè e outras marcas nasceram na cidade e aqui se consolidaram a partir dos anos 80 (quando o eixo da moda italiana se transferiu de Florença para cá), dando um outro significado ao conhecido preat-a-porter. Sim, porque se Paris significa alta costura, Milão, ao meu ver, é a cidade do preat-a-porter de qualidade.
Caminhando por certos bairros e em certos horários (o comercial, por exemplo) é facíl encontrar homens e mulheres com suas roupas de cortes perfeitos emoldurados por acessórios e detalhes (como meias, sapatos, encharpes) que fazem dos milaneses os italianos mais bem vestidos no país.
F como Feiras
Algumas conhecidas como o Salão do Movél e Mido (óculos) e outras mais especializadas, Milão possui um polo feiristico enorme e conhecido mundialmente.
Ainda que não seja bem uma feira, e sim uma Exposição Mundial, Milão vai hospedar em 2015 a próxima Expo, que em 6 meses (de 1 maio a 31 outubro 2015), em uma área que está sendo construída exclusivamente para isso, esperar receber 20 milhões de turistas de todo mundo.
G como Galeria
“Il salotto di Milano”: a Galeria Vittorio Emanuele foi construída no final do séc.19 para ser um corredor chique entre as praças Duomo e Scala e assim é até hoje.
Alí, desde o ínicio se instalaram restaurantes, bares e lojas exclusivas (como a primeira Prada em 1913) para acolher a burguesia que passeava entre um espetáculo e outro do Teatro Scala.
A grande cobertura de vidro e ferro é de uma beleza sem igual na Itália, tudo completado pelo pavimento original e as decorações no alto a mosaico.
H como Hospedagem
Cidade de negócios e de muitas feiras, como o Salão do Móvel, por exemplo, Milão oferece vários tipos de hospedagem para quem vem a cidade. De hotéis de super luxo como Four Seasons, Hotel Bulgari, Armani Hotel, entre outros, passando por opções mais acessíveis como os bons 4 e 3 estrelas.
Para quem prefere as opções low cost, Milão oferece albergues da juventude recém abertos como o Gogol Ostello ou apartamentos para alugar, como o Milan Central Flat, que é administrado por uma brasileira.
Confira as nossas dicas de hospedagem em Milão por bairros, clicando aqui.
I como Igrejas
Muitos não sabem, mas Milão perde para o número de igrejas só para Roma aqui na Itália. A maiora dos turistas não vai muito além do Duomo, o que é uma pena, já que a cidade tem inúmeras igrejas de grandíssimo valor histório e artístico e que conversam obras de arte e capelas revelantes para entender a própria história da cidade.
Deixo aqui uma lista curta das minhas preferidas, muitas deles no centro da cidade e no caminho de turistas desatentos: Santa Maria em San Satiro, San Simpliciano, San Gottardo, Sant’Eustorgio (Capella Portinari), Santa Maria delle Grazie, San Maurizio, Sant’Ambrogio.
J como Jogo de Futebol
Assim como os brasileiros, os italianos são grandes fãs do futebol e em Milão “o” jogo clássico, aqui chamadod e derby, é Milan x Inter.
Difícil desassociar a cidade desses dois grandes times italianos e do estádio mais famoso do país: San Siro (como é chamado pelos milanistas) – Giuseppe Meazza (como é chamado pelos interistas). Confesso que minha primeira vez em um jogo de futebol foi em San Siro para evr Milan x Catania e me diverti. Para os turistas assistir um jogo é mais difícil, já que o ingresso é vendido para uma rede de pessoas previamente cadastradas. Mas é possível conhecer o estádio durante a visita ao museu (leia o post).
Não importa se você é um rosso-nero (milanista) ou nero-azzuro (interista), o importante é torcer para um time da cidade.
L como Lojas
Em uma cidade como Milão é fácil encontrar todas as grandes marcas mundiais e suas lojas espetaculares, assim como as lojas das grandes marcas fast fashion (leia o post).
Mas Milão conta também com uma série de lojas locais e de concept stores que valem a visita como 10 Corso Como, Wait and See, Nonostante Marras, Wok e brechós como o conhecidíssimo Cavalli e Nastri.
Os eixos de compras mais acessíveis estão em Corso Vittorio Emanuele, Corso Buenos Aires, Corso Vercelli e Via Torino. O luxo está no Quadrilátero da Moda, Galleria Vittorio Emanuele e na loja de departamento La Rinascente.
As lojas mais descoladas e jovens ficam no eixo de Corso de Porta Ticinese e Navigli. Tem para todos os gostos e bolsos.
M como Museus
Se engana quem pensa que Milão não oferece museus de prima linha. A cidade conta com uma rede museal composta de museus municipais, federais e particulares.
Se começa pela grande Pinacoteca de Brera para passar pela Pinacoteca Ambrosiana, que conversa os Códigos Atlânticos de Da Vinci, e pelos ótimos museus municipais dentro das salas do Castelo Sforzesco. Recém inaugurado, o Museu do Duomo conta a história da construção da catedral através de esculturas antigas e uma rica documentação.
A arte moderna e contemporânea ficam concentradas na Galleria di Arte Moderna, na coleção privada da Gallerie d’Italia e no Museo Novecento. O design é o tema principal do Triennale Design Museum.
Milão ainda conta com 4 excelentes casas-museus, antigas residências que foram deixadas pelos seus proprietários repletas de coleções de arte e móveis de época: Museu Poldi Pezzoli, Museu Bagatti Valsecchi, Museu Boschi di Sfefano e a belíssima Villa Necchi Campiglio, da qual falei nesse post.
Para fechar, o Palazzo Reale oferece durante todo ano, um calendário de grandes mostras nacionais e internacionais temporárias.
N como Navigli
Hoje a palavra Navigli (canais) significa só especificar um bairro de Milão, mas não fo sempre assim. Para quem conhece a cidade, é difícil imaginar que muitas vezes passamos por ruas onde até os anos 30 corriam uma grande rede de canais.
Grande recurso e meio de transporte da época medieval (o mármore do Duomo chegava na cidade através dos canais) até a invenção das ferrovias, os canais caíram em desuso no século 20 e nos anos 30 grande parte foi coberto em nome da viabilidade e da modernidade.
Hoje, o pouco que resta fica em uma das áreas mais agitadas de Milão a noite, com uma concentração de bares e restaurantes.
O como Ópera
Por mais que você não seja chegado no gênero musical, é difícil falar de Milão sem falar do Teatro alla Scala, um dos grandes teatros de lírica do mundo.
Com uma acústica perfeita, por aqui passaram os grandes nomes da lírica e do ballet mundiais, entre compositores, tenores, sopranos, maestros e bailarinos.
O que muitos brasileiros não sabem é que foi aqui que, em 1870, Carlos Gomes estreou mundialmente a sua grande ópera “O Guarani”.
Não deixe se intimidar pela fachada neoclássica austéra, o interior é de tirar o fôlego e é possível ve-lo se você visita o museu do teatro.
P como Parques
Milão, infelizmente, não pode ser considerada uma cidade verde. Os parques mais famosos da cidade, dos quais falamos nesse post, se concentram no centro e arredores, como é o caso do Parco Sempione, atrás do castelo e o Giardini Pubblici, o meu preferido, que fica no Corso Venezia e hospeda o Museu de História Natural da cidade.
Para quem está por aqui com crianças, vale a pena também (o meu querido) o jardim posterior da Villa Reale, que fica em frente ao Giardini Pubblici. Ele é realmente muito bonito e tranquilo, já que a entrada é probida para adultos que não estão acompanhados de crianças (até 12 anos).
Q como Quadriláteros
Sim, no plural. O quadrilátero mais famoso da cidade e do mundo é o nosso chamado Quadrilátero da Moda (ou de ouro), ou seja, as quatro ruas que concentram um grande números de marcas de luxo (roupas, jóais, relógios, móveis e design). Mesmo para quem não tem intenção de arruinar a carteira nas redondezas, vale um passeio para olhar vitrines e apreciar a arquitetura do bairro.
Mas meu quadrilátreo preferido na cidade é o mesnoa conhecido e do qual falei nesse post: o Quadrilátero do Silêncio. Um conjunto de poucas ruas paralelas ao Corso Venezia, com edíficios de arquitetura liberty (art nouveau) e que te catapulta em uma outra dimensão pelo…silêncio. Tudo isso a dois passos do centro.
R como Restaurantes
Aqui a lista poderia ser infinita, com as minhas indicações pessoais ou simplesmente uma lista de grandes nomes da cozinha italiana (os chamados estrelados) que tem seus restaurantes em Milão.
Caro ou barato, em pé, na rua ou sentado, Milão tem restaurantes e cozinhas para todos os gostos e bolsos. Um panino (sanduíche), um panzerotto no Luini, comer com vista para a abside do Duomo, um brunch com uma sala dedicada ao chocolate… Escolha o seu tipo de restaurante e bom apetito.
S como Santa Ceia
Sem dúvida a maior obra de arte da cidade, do próprio Da Vinci e uma das mais conhecidas e reproduzidas do mundo.
A grande parede do refeitório dos domenicanos, pintada a seco (não é um afresco, leia a sua história nesse post) a pedido do duque Ludovico Sforza, atrai todos os anos milhares de turistas de todo mundo. Admira-la requer uma certa dose de organização, já que os bilhetes para a visita de 15 minutos começam a serem vendidos com 3 meses de antecedência.
T como Transportes
Esqueça o carro alugado. Milão conta com uma rede de transporte público que satisfaz completamente as exigências dos turistas (e moradores). O metrô tem 4 linhas urbanas e mais algumas integradas com o que chamamos de “passante”. A integração do bilhete vale também (por 90 minutos) com os ônibus e bondinhos da cidade.
Na primavera ou verão uma opção, mesmo para os turista, pode ser o serviço de Bike Sharing da cidade, onde é possível “alugar” uma bicicleta para rodar pela cidade. Leia nesse post como usar o serviço BikeMi.
Para quem não renuncia ao taxi, saiba que eles (quase sempre) não param na rua e devem ser pegos nos vários pontos espalhados pela cidade.
U como Um dia não basta
Para muitos brasileiros Milão ainda é vista como uma cidade de chegada na Itália e de passagem: daqui se parte para a descoberta “del bel paese”. Com isso, a média de estadia dos turistas aqui ainda é bem baixa.
Fico sempre perplexa (para não usar outras palavras) com quem passa por aqui por 1 dias, não explora muito além do “centro-centro” e volta dizendo para amigos e parentes: Milão não tem nada.
Se fosse assim, esse blog não existiria e se fosse assim, esse post não existiria.
Milão não é uma cidade para preguiçosos. Vá além do óbvio, vá além dos guias de turismo e acredite: Milão não é só o Duomo, Castelo e Galeria e um dia só não basta.
V como Vida Noturna
Muitos leitores me escrevem emails cobrando dicas de vida noturna no blog. Para quem ainda não entendeu, sou uma jovem senhora de 40 anos com 2 filhas pequenas e minha idéia de vida noturna está mais para uma ida ao cinema, um jantar com amigos ou no máximo um aperitivo que vai até mais tarde.
Dito isso, não quer dizer que uma cidade como Milão não tenha uma vida noturna agitada. Cidade de modelos, jogadores de futebol, estilistas e empresários, Milão ainda tem essa modalidade, que eu não suporto, do police door: escolher quem entra ou não entra. Já vi lugares com filas homéricas fora e que quando você está meio vazio. A “fila” faz o lugar ficar famoso.
Me limito a deixar uma lista dos clubs noturnos mais famosos da cidade: The Club, Just Cavalli Hollywood, Sio Café, Bobino Club, Tocqueville, Hollywood, Alcatraz.
X como Xeretar
Milão não é uma cidade óbvia, é cheia de segredos e belezas muitas vezes escondidos atrás de fachadas austeras e portões pesados. Pode ser difícil para o turista, que passa aqui pouco dias, conseguir colher a essência e a beleza da cidade.
A minha dica é que você xerete o máximo possível, que alongue o pescoço toda vez que tiver um portão aberto e que for possível espiar (porque muitas das propriedades são privadas), que entre em pátios abertos e que foram transformados em espaços para pequenas lojas, que visite os claustros das igrejas, que olhe para cima para apreciar as cariátides e telamones dos palácios.
Z como Zanzar
E essa última letra está estritamente ligada a anterior. Porque é impossível xeretar sem zanzar pela cidade. Milão é uma cidade plana e relativamente pequena para os padrões brasileiros. A melhor maneira de conhecer a cidade é caminhando entre os bairros e as atrações mais ou menos turísticas.